Assim que entrei no IPO do Porto percebi que devia ter feito aqui todos os tratamentos. Aqui não há problemas de estacionamento, falta de informações, há senhas para tudo, não há grandes atrasos, há lugar para nos sentarmos à espera, as casas de banho estão em condições e, a cima de tudo, tem um sistema informatizado! Pois é, depois de estar horas à espera entre consultas porque o meu processo tinha de vir montado numa tartaruga de um departamento para o outro no IPO de Lisboa, no IPO do Porto o processo chega antes de mim.
Mesmo com as confusões por o IPO de Lisboa não ter enviado os meus PET para o Porto (ou ter enviado na tal tartaruga que nunca chegou), comecei a fazer radioterapia no dia 16 de Março, depois de uma consulta com a hematologista e duas consultas com a radiologista.
Depois da primeira consulta com a radiologista levaram-me a fazer mais um TAC. Pareceu-me muito normal – despida da cintura para cima, braços para cima da cabeça, dedos entrelaçados. Não respire, pode respirar.
“A Dra. disse-lhe que lhe vamos fazer umas tatuagens?” perguntou a técnica ao dirigir-se a mim com um tubo de tinta da china e um agulha na mão.
“Não.”
Mas tinham de ser feitas. Quatro pontinhos (dois no peito e um de cada lado do tórax) para que me possam alinhar sempre na mesma posição na máquina da radioterapia.
“Não que isso importe muito, mas são permanentes?” perguntei depois das tatuagens, quando acabaram de verificar os alinhamentos.
Sim, são. Uma lembrança desta luta – quatro pontinhos tatuados no tórax.
Tenho de fazer 20 sessões, 5 dias por semana, para ver se, finalmente, me livro disto. Em comparação com a quimioterapia a radioterapia não é mesmo nada – é como ir fazer um raio-x. O processo é tão rápido que entre entrar e sair do parque de estacionamento demoro menos de meia hora.
Num dia normal estaciono mesmo à porta do departamento e entrego o meu papelinho azul (onde está escrita a informação sobre o meu tratamento em específico, mas que não é necessário porque já fiz o tratamento sem ele. É usado como senha e para confirmação de dados) à entrada. Depois só tenho de esperar dois ou três minutos para que me chamem para o vestiário 3 (os vestiários estão numerados de acordo com a máquina em que se faz o tratamento). Aí dispo-me da cintura para cima, coloco a bata que tenho de trazer comigo todos os dias e encontro-me com a equipa de radiologia que me faz sentir muito à vontade e vai conversando comigo enquanto me posiciona na maca e me alinha com os lasers.
Deixam-me sozinha na maca e a máquina começa a rodar à minha volta: primeiro faz um raio-x para verificar que estou alinhada e como estão as coisas e, depois, começa o tratamento em si. Para além de ter de estar quieta nos cerca de 10 minutos que todo o processo demora, não custa mais nada, até posso estar de olhos abertos! No fim ajudam-me a levantar, entregam-me o papelinho azul novamente e dizem-me “até amanhã”.
E eu saio sozinha, a conduzir, como se nada se tivesse passado.